Filhas de Mães Narcisistas (Relato)

“Nós, filhas de mães narcisistas, temos muitas questões resultantes da convivência com este estilo de vida enlouquecedor. Creio que viver com uma mãe narcisista é possivelmente uma das formas de abuso mais horrendas que uma criança pode sofrer, porque dependendo de onde essa mãe esteja enquadrada no espectro do narcisismo, tudo pode ser tão sutil que nem percebemos que estamos sendo vítimas de abusos.

Como um dos membros do fórum escreveu tão eloquentemente:

“Por mais que as filhas de mães narcisistas sejam diferentes entre si, e que suas situações, idades, e memórias variem, o grau de seu sofrimento, e o desejo de desabafar as consequências de terem sido criadas por mães com esse tipo de distúrbio mental, são universais. Trata-se de uma abnegação da alma, e eu diria que o estrago que isso causa é mais pérfido do que aquele que ocorre em outras formas de abuso infantil.

Esse abuso é completamente invisível para todos, incluindo o abusador (que na maioria das vezes não consegue ver o que está fazendo) e sua vítima (porque isso é só o que ela conhece). O mal que ele causa é onipresente, perverso, dolorosamente injusto e mutilador.”

Eu certamente não sabia que este abuso estava acontecendo. Quando a minha irmã de 15 anos saiu de casa e foi morar com um vizinho e depois saiu de vez de casa aos 17 anos, tudo o que eu podia pensar era: “Mas qual é o problema dela?” Nunca me ocorreu perguntar de onde teriam vindo a minha própria depressão, tentativa de suicídio, pensamentos suicidas constantes, e problemas alimentares.Nós simplesmente internalizamos o estresse, e pensamos que somos nós que estamos erradas, que nós é que somos horríveis e que talvez até estejamos malucas.

Isso ainda é reforçado pelo fato de que nossas mães narcisistas e nossos “pais possibilitadores” (cúmplices e/ou omissos) nos dizem que nós é que estamos loucas! Talvez isso não seja dito em palavras, mas todas as vezes que eles mentem e negam (“Gaslight”), dizendo que nossas memórias e emoções estão equivocadas, eles efetivamente estão dizendo que estamos loucas.

Na ultima vez que conversei com minha mãe, ela me disse de forma condescendente, que eu tinha uma imaginação muito fértil, sugerindo que eu havia imaginado tudo aquilo que estava lhe dizendo.

Talvez a gente pense que nossas mães nos amem, porque é isso o que elas nos dizem, e nós não conhecemos outra coisa para perceber que normalmente o amor não se manifesta desta forma: desvalorização astuta, invalidação, e negligência. Além disso, a cultura nos diz em alto e bom som, repetidamente, que nossas mães nos amam e que nós temos que amá-las. Por causa disso, nossos amigos não entendem, e nem podem entender nada disso, o que torna tudo muito solitário…e  nós acreditamos que nós as amamos porque, bem… é isso o que as filhas fazem. Como meninas normais amorosas nós desejamos amar.

Essa herança de ter sido filha de uma mãe narcisista simplesmente se perpetua. Ela já me foi amargamente descrita como “o gotejar de um veneno que nunca cessa”. Nós sentimos que não podemos ser o nosso eu autêntico/verdadeiro, mesmo que tenhamos conseguido descobrir quem esse eu verdadeiro é.

Nós sofremos com baixa auto-estima, às vezes até o ponto de nos detestarmos, e nós lutamos para cuidar bem de nós mesmas. Nós certamente temos dificuldade para gostar de nós mesmas, e tudo isso fica evidenciado pelos nossos diálogos internos negativos. Nós podemos acreditar que não temos o direito de existir, e certamente sentimos que nunca somos boas o bastante, que não somos aceitáveis, e que em algum nível bem profundo nós somos inerentemente defeituosas. Nós estamos sempre nos sabotando, ou nos sobrecarregando com um perfeccionismo impossível.

Embora possamos nos sentir eufóricas quando descobrimos sobre o Transtorno de Personalidade Narcisista, quando percebemos que nós não estávamos “malucas”, esse sentimento pode ser rapidamente seguido por raiva, pesar, dor, perda, tristeza, vergonha, culpa, e até mesmo ódio.

Nós estamos cansadas de ver nossos sucessos serem desvalorizados e as nossas tragédias serem utilizadas como suprimento narcísico pela “rainha do drama”. Nós talvez sempre tenhamos nos sentido como uma garotinha, e provavelmente temos medo de nos apropriar ou de acessar o nosso próprio poder. Isso também faz com que nos sintamos impotentes. Durante anos escutamos que somos “sensíveis demais”, e talvez agora, realmente sejamos.

Nós temos dificuldade para estabelecer limites, seja com a nossa própria família ou com os outros. Talvez nós tenhamos um medo exagerado de figuras de autoridade, ou de pessoas se zangarem conosco. Nós nos preocupamos com a possibilidade de que também sejamos narcisistas.

Nós podemos ter questões com o nosso corpo, seja por estarmos acima do peso, ou por ficarmos com medo de engordar. Nós ainda podemos sentir muito medo das nossas mães, não importa a idade que tenhamos ou quão assertivas sejamos em outras áreas de nossas vidas. Nós podemos descobrir que ainda estamos, em vão, tentando conseguir a sua aprovação, e a sua atenção.

Nós podemos querer limitar severamente o nosso contato com ela, ou até mesmo cortar qualquer tipo de contato, mas nos sentimos culpadas e confusas à esse respeito. Nós sem dúvida temos dificuldade de formar relacionamentos, ou talvez sejamos atraídas por relacionamentos abusivos e doentios.

Nós temos um medo constante de abandono, e sérias questões com a confiança. Nós carregamos um sentimento persistente de que o mundo não é seguro. Nós também temos imensas questões relativas à merecimento. Lá no fundo nós podemos sentir que não merecemos coisas boas, ou bons relacionamentos, ou mesmo que não merecemos nos curar.

Nós também podemos ter crenças limitantes (inconscientes) que digam que se nos curarmos ela terá se “safado”, ou de que sermos infelizes é a prova de tudo o que nos aconteceu.

Muitas filhas de mães narcisistas tem uma enorme dificuldade em falar de coisas boas a seu próprio respeito, e de celebrar os seus próprios sucessos. Nós sem duvida temos crenças negativas. Elas variam de mulher para mulher mas poderiam ser coisas como: não é seguro ser bem sucedida, ou eu tenho que ficar quieta para não criar problemas. O problema com essas crenças é que frequentemente elas são tão profundas que nós nem sabemos que elas estão lá – mas elas estão atuando em nós, frequentemente arruinando as nossas vidas.

Nós podemos sentir o peso de ter que manter os “segredos da família”, e nos sentimos culpadas e envergonhadas sobre eles. Nós ficamos divididas entre cortamos todo o contato com nossas mães ou em termos que lidar com elas regularmente. Nós podemos duvidar da nossa capacidade de ser mães quando chega a nossa vez”.

Por Danu
Tradução e adaptação do original por Silvia Rawicz

Original: “Daughters of Narcissistic Mothers”
Fonte: http://www.daughtersofnarcissisticmothers.com/