De acordo com a teoria psicanalítica, o narcisista desenvolveu um Falso Eu ao longo de sua infância para se proteger de um ambiente familiar aonde suas necessidades não eram reconhecidas. De alguma maneira, o narcisista não teve permissão para expressar o seu eu verdadeiro (essência), e para poder sobreviver precisou criar um Falso Eu mais aceitável aos olhos de seus pais.
Alguns acreditam que o narcisista tenha sofrido abusos tão severos na infância, que ele decidiu parar de sentir cortando sua conexão com a fonte de emoções genuínas (insuportáveis). Ele “matou” (por desespero e ódio a si mesmo), ou fez desaparecer, aquele que em sua mente merecia os abusos, ou seja; o seu eu verdadeiro. Feito isso, para sobreviver, ele precisou colocar um Falso Eu em seu lugar.
Outros acreditam que o narcisista sofreu algum tipo de abuso sexual na infância e por conta deste trauma, seu eu verdadeiro se estilhaçou em vários pedacinhos. Isso gerou uma personalidade com aspectos dissociados, fragmentada como um espelho rachado. Esse estilhaçamento do eu se assemelha aquele que ocorre em casos de pessoas comTranstorno Dissociativo de Identidade (múltipla personalidade).Cada pedacinho do espelho seria um aspecto de sua personalidade desintegrada. Então, a personalidade do narcisista funcionaria como um caleidoscópio. Seus fragmentos se alternam, aparecem e desaparecem. Ele mostra cada hora uma face, um “eu”, dependendo da situação.
Também é interessante notar que o narcisista costuma apresentar um lado infantil, frágil, impotente e indefeso. Esse é um aspecto regredido de sua personalidade. Às vezes, ele se comporta como uma criança de aproximadamente cinco anos de idade. Talvez esse tenha sido o momento em que sua personalidade se fragmentou. Porém, ainda não sabemos ao certo o que de fato ocasionou o surgimento do Falso Eu. Todas essas teorias e hipóteses ainda estão no campo das “especulações”.
O Falso Eu
O Falso Eu, é um construto, uma ilusão, uma “máscara” que o narcisista apresenta ao mundo como se fosse o seu eu verdadeiro.
Esse Falso Eu tem que ser perfeito. Ele é superior, especial, maravilhoso e quase mágico. Diz-se que o narcisista sofre de um “Complexo de Deus”.
O Falso Eu não pode ter defeitos nem falhas. Para manter essa falsa auto-imagem de perfeição, e se sentir equilibrado, o narcisista grave precisa de uma vítima. É na vítima que ele projeta o seu auto-ódio, o seu “lixo psíquico” e tudo aquilo que tem de inaceitável em si mesmo. Só assim ele pode manter o seu Falso Eu intacto. Este é o aspecto mais destrutivo da sua patologia.
Ao fazer desaparecer o seu eu verdadeiro, o narcisista ficou vazio. Ele perdeu a conexão com sua essência, e com a energia da vida. O Falso Eu não tem essa conexão. O narcisista precisa sugar essa energia dos outros para “sobreviver”. Ele se tornou um predador sofisticado, um verdadeiro vampiro emocional. Aos poucos ele vai se apropriando da identidade da vítima e destruindo tudo que ela tem de bom. Por isso, na dança com um vampiro narcisista, a vítima pode acabar se sentindo vazia e sem vida. Sem perceber ela deixou que o narcisista a infectasse e se apropriasse do que era dela.
Aquilo que o narcisista apresenta ao mundo não é de verdade, mas sua personalidade pode ser muito encantadora, sedutora, carismática, magnética e até mesmo hipnótica. Ele é extremamente convincente e pode enganar tão bem quanto um psicopata completo.
O narcisista é como um camaleão. Muitas pessoas do seu circulo não fazem ideia do que ele é capaz de fazer e dizer quando ninguém está olhando. Para os outros, o narcisista pode ser visto como uma criatura bem adaptada e até “gente boa”. Não raro ele se mostra como um ser de caráter nobre, bondoso, humanitário, generoso e preocupado com o bem maior. Porém, nada poderia estar mais distante da realidade. O narcisista é um mentiroso patológico. Tudo o que ele faz tem como intenção alimentar sua auto-imagem, seu bem contruido Falso Eu. Seus favores e bondades serão cobrados de alguma forma. Narcisistas não costumam dar ponto sem nó.
Por Silvia Rawicz
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