O “Filho dourado” e o “Filho bode expiatório”

É muito comum as mães narcisistas terem um filho dourado e outro bode expiatório na dinâmica familiar. O que isto significa é que uma criança da família é o filho dourado favorito, e o outro, ou outros, são o bode expiatório, culpado por tudo.

O filho dourado, como o nome sugere, é o melhor e o filho mais maravilhoso, pelo menos aos olhos da mãe narcisista. A mãe narcisista escolhe o filho dourado para ser uma extensão de si mesma, em quem ela projeta todas as suas próprias qualidades e suposta magnificência.
O filho dourado nunca faz nada errado. Ele recebe o melhor de tudo e até mesmo apartamentos ou casas. As suas realizações por mais pequenas são celebradas e vistas com admiração. Os seus delitos são encobertos e ignorados.

O bode expiatório por outro lado e como o nome sugere, é aquele no qual todos os males da família são projetados. Visto com todos os defeitos, nunca faz nada certo. As suas maiores realizações são dispensadas. Qualquer dinheiro gasto nele é o mínimo e é gasto relutantemente.

Compreensivelmente, estas divisões entre irmãos leva-os a terem ciúmes uns dos outros. Isto, claro, causa fricção entre as crianças, o que convém à mãe narcisista. Dividir e conquistar dá-lhe muitas oportunidades para triangulação. Por vezes, o filho dourado pode até ser incentivado pela mãe narcisista, diretamente ou taticamente, a intimidar o bode expiatório para aumentar o atrito.

O bode expiatório pode até ser castigado por fazer algo bom, pois isto é uma ameaça à narrativa da mãe narcisista onde o bode expiatório é todo mau. Os castigos não são dados abertamente porque isto também arruinaria a narrativa que é tudo culpa do bode expiatório, mas são dados sutilmente e ocultamente.

Os castigos podem ser ainda mais sutis ou puramente destrutivos como simplesmente a reação dos seus pais. Eles podem até dizer as palavras certas mas as suas expressões e a sua frieza vão contar outra história mais real, onde estão zangados com a sua conquista e onde transmitem a sua fria desaprovação (pois mais uma vez, estraga a sua narrativa de como o filho é mau, que foi cuidadosamente construída).

Da mesma forma, o bode expiatório pode ser recompensado de uma forma estranha, com o fracasso. Pode até obter aprovação de viver abaixo das suas expectativas, e mesmo essa recepção escassa é aceita. O bode expiatório é muitas vezes o que se chama o recipiente identificado. Onde todos os males da família são projetados, e aquele que paga por todos esses males.

Não é de estranhar que se foi abusada e inferiorizada e tratada injustamente toda a sua vida que possa ter problemas como distúrbios alimentares, ou toxico dependência, ou gestão de raiva, ou depressão, etc. Tudo isto reforça a narrativa que você é uma má pessoa, ruim, a ovelha negra. Isto fica tão interiorizado e enraizado que mesmo até você acredita que foi sempre um problema desde criança, má semente. Afinal, e’ aquela que tem o transtorno, ou qualquer outro problema, etc. Isso é inegável! Talvez a levaram à terapia para a tentar concertar.
Mas uma das duas coisas seguintes irá acontecer: terá um mau terapeuta que vai acreditar na narrativa dos pais tal como é apresentada e reforçar ainda mais a crença da sua própria maldade e falha. Ou, terá um bom terapeuta que vê as mentiras e tenta tratar a dinâmica disfuncional real em vez do indivíduo supostamente quebrado. Neste caso, na primeira desconfiança que haja algo de errado com eles, os seus pais encontrarão alguma desculpa (que sem dúvida é culpa sua) e terminarão a terapia imediatamente. Esta terapia sem sucesso é outra falha sua.

O bode expiatório é verdadeiramente uma situação sem saída. Na maioria dos casos o abuso é tão subtil que isso não garante a participação dos serviços sociais, e então não há nenhuma opção senão aguentar até a idade adulta.
Eu aventuro-me a assumir que se está lendo isto, que seja mais provável que tenha sido o bode expiatório do que o filho dourado. Isto ocorre porque, ao contrário da crença enquanto cresceu, o bode expiatório é na verdade o sortudo. (Quer dizer sorte relativa claro. Nenhuma criança de uma mãe narcisista pode ser descrita como tendo sorte.)

O filho dourado pode acabar muito estragado pela mãe narcisista, e sua vida pode acabar enredada com a dela. Ele poderá crescer sem limites adequados e com falta de auto-identidade, sem dar um passo na vida sem a aprovação dela. Muito provavelmente permanecerá para sempre ou por muito tempo dependente da mãe narcisista, mas se um dia conseguir se libertar, esse processo será infinitamente muito mais doloroso para ele do que para o bode expiatório.

O bode expiatório é por outro lado, o independente!

Foi ele quem procurou respostas e que descobriu o transtorno de personalidade narcisista. Ele é o único que pode se libertar da dinâmica familiar disfuncional e tentar fazer o melhor para criar uma vida saudável e se recuperar das mentiras que ouviu sobre si mesmo desde o dia que nasceu. Claro que ainda não seja fácil para ele (ou seja, para si).

Nada sobre esta viagem é fácil. Mas é possível e factível!

Danu Morrigan
Golden child and scapegoat
Traduzido por Elsa Morais

Fonte: https://verdadeditablog.wordpress.com/2015/12/03/o-filho-dourado-e-o-filho-bode-expiatorio/